Estudo: Discipulem
Discipulem
Formando discípulos de Jesus de casa em casa
Jesus disse: “Indo, portanto, discipulem todos os povos […], ensinando-os a prestar atenção em todas as coisas que ordenei a vocês […]”. Mateus 28:19-20
Edição de 2018
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SUMÁRIO
Introdução – Amar a Jesus é Guardar a sua Palavra
Capítulo 1 – Jesus quer que Você Seja um Discípulo Dele
Capítulo 2 – Jesus Ordenou: Discipulem
Capítulo 3 – Igreja Nas Casas
Capítulo 4 – Organização de uma Reunião em Casa
Capítulo 5 – Ensinando a Palavra de Cristo
Discipulem – Introdução
Amar a Jesus é Guardar a sua Palavra
“[Jesus disse:] Eu sou o bom Pastor; conheço as minhas ovelhas, elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. É necessário que eu também as conduza. Elas ouvirão a minha voz; e haverá um rebanho e um pastor.” João 10:14-16
Estejamos certos que o bom Pastor, Jesus Cristo, Ungido pelo Espírito Santo, fez por nós. Ele veio ao mundo para nos salvar (Lucas 19:10), morreu em nosso lugar tomando sobre si o castigo que nós merecíamos ter recebido, sendo obediente ao Pai até a morte de cruz. É assim que Jesus tem atraído todos a si mesmo (João 12:32-33), enchendo todo aquele que nele crê de amor, gratidão e desejo de fazê-lo cada vez mais como Senhor, Salvador e Mestre sobre toda s as coisas.
“[Jesus disse:] Se vocês me amarem, guardarão os meus mandamentos. […] Aquele que tem os meus mandamentos e a eles guarda, esse é o que me ama. E aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele. […] Se alguém me amar, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos a ele e faremos nele morada. Quem não me ama não guarda as minhas palavras. A palavra que vocês estão ouvindo não é minha, mas do Pai que me enviou.” João 14:15, 21, 23-24
As reflexões a respeito dos ensinamentos de Jesus aqui registradas são destinadas àqueles que o amam e desejam desenvolver cada vez mais esse amor guardando a sua palavra (João 15:10, Apocalipse 2:4-5). O verbo guardar traz um sentido original no texto grego de manter vigilância sobre, observar, prestar atenção, cumprir.
A grande motivação que está por trás da iniciativa de redigir essas reflexões é o cumprimento do envio de Cristo para discipular as nações por intermédio do ensino de todas as suas ordenanças (Mateus 28:19-20). Espera-se, portanto, que em todo momento o leitor tenha o cuidado de dar mais importância para as palavras eternas de Jesus do que para as interpretações dadas por este pobre pecador. Peço ao Pai que te abençoe, guiando a sua leitura por intermédio do Espírito Santo.
“[Jesus disse:] Céu e terra passarão, mas nunca as minhas palavras.” Lucas 21:33
Discipulem – Capítulo 1
Jesus Quer que Você Seja um Discípulo Dele
“Jesus dizia aos judeus que haviam crido nele: Se vocês permanecerem na minha palavra, serão verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade, e a verdade libertará vocês. […] Em verdade, em verdade digo a vocês que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado.” João 8:31-32, 34
Muitas pessoas se sentem cobradas e vigiadas por Deus, por isso buscam uma liberdade fora da presença dEle, mas toda espécie de liberdade fora de Cristo é uma ilusão, pois mesmo se desfrutarmos de um sentimento de total independência, como se pudéssemos fazer tudo aquilo que bem entendermos, ainda continuaríamos sendo escravos do pecado.
Quando a palavra pecado vem à tona, um sentimento de ameaça pode trazer diversos pensamentos à nossa mente: eu não mato, não roubo, ou ainda, creio em Deus e em Jesus como o Filho de Deus e sou salvo pela graça. Saiba que Jesus está se dirigindo nesse contexto justamente àqueles que já haviam crido nele. Ele está trazendo um alerta aos crentes que se sentem confortáveis na sua visão e prática religiosa. Se você já está convencido de que é um pecador (João 16:7-9, Romanos 3:23), ótimo, já está dado o primeiro passo, mas Jesus quer nos levar do convencimento à liberdade do pecado.
Há quem diga que para se tornar um cristão é suficiente confessar Jesus como Senhor e passar a congregar regularmente em alguma denominação religiosa. Será que é isso mesmo que Jesus está nos ensinando aqui? É suficiente confessar Jesus como Senhor, sem fazer aquilo que ele ordenou (Mateus 7:21)?
“[Jesus disse:] E por que vocês me chamam: Senhor, Senhor, e não fazem o que eu mando” Lucas 6:46
Quando Jesus olhou para os crentes entre os judeus, eles não foram parabenizados por terem crido ou por já terem decidido participar regularmente de uma sinagoga. Jesus mostrou que é insuficiente que nos limitemos a acreditar, afinal, até mesmo os demônios creem e tremem de medo (Tiago 2:19).
Além disso, Jesus usou a expressão “meus discípulos” (João 8:31-32), e isso quer dizer que não basta que sejamos discípulos de qualquer líder ou discipulador. A expectativa de Jesus é que nos tornemos seus discípulos. O que devo fazer para me tornar um discípulo de Cristo?
Observe que Jesus deixa uma condição bastante clara para responder a essa pergunta. Para que sejamos verdadeiramente seus discípulos a condição dada por ele é: “permanecerem na minha palavra” (João 8:31-32). Não basta permanecer em qualquer palavra dita por alguém, seja ele um estudioso, profeta ou mestre. Devemos permanecer na palavra de Jesus para que sejamos verdadeiramente discípulos dele.
Pode ser que alguém consiga permanecer nas palavras de Moisés, de Elias ou ainda de Paulo, mas isso só fará com se torne um discípulo desses homens de Deus, isto que ainda não é a expectativa de Jesus. Sendo assim, seguir a bíblia como um manual de vida pode se tornar uma generalização doutrinária perigosa, se isso nos acomodar não sendo capaz de nos levar, antes de tudo, a sermos discípulos de Cristo. Jesus alertou os fariseus por estarem apegados às escrituras sagradas, mas não quererem ir até ele para terem vida.
“[Jesus disse:] Vocês examinam as escrituras, pois julgam ter nelas a vida eterna; e são elas que dão testemunho de mim; mas não querem vir a mim para terem vida!” João 5:39-40
Jesus também está ensinando que somente aquele que é verdadeiramente um discípulo dele é que pode chegar ao conhecimento da verdade (João 8:31-32). Muitos homens têm pregado pelos púlpitos como se fossem donos da verdade, mas cuidado, Jesus está dizendo que mesmo que sejam bons oradores, fervorosos, carismáticos, cheios de autoridade, conhecedores da bíblia e bem intencionados, se estes não estiverem permanecendo nas palavras de Cristo, ainda não se tornaram discípulos verdadeiros dele, conhecem somente a mentira e, assim, não estão libertos do pecado.
Isso também significa que mesmo que nós tenhamos ótimas intenções de ajudar outras pessoas a conhecer a verdade para serem libertas do pecado, sendo que nós mesmos ainda não nos tornamos discípulos de Cristo, então podemos estar agindo como cegos guiando outros cegos (Mateus 15:14), ou ainda, como hipócritas que tentam tirar os ciscos dos olhos dos outros sem que antes tivéssemos retirado as traves dos nossos próprios olhos (Mateus 7:5).
Jesus contou esta parábola abaixo como uma orientação para que cada um se esforce para construir a sua casa na rocha, pois a casa que tiver sido construída na areia, cedo ou tarde, será destruída.
“[Jesus disse:] Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática será comparado a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha. E a chuva caiu, os rios se encheram, os ventos sopraram e bateram com força contra aquela casa; contudo ela não caiu, porque estava alicerçada na rocha. Mas todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as põe em prática será comparado a um homem insensato, que edificou sua casa sobre a areia. E a chuva caiu, os rios se encheram, os ventos sopraram e bateram com força contra aquela casa; e ela caiu; e a sua queda foi grande.” Mateus 7:24-27
Você saberia dizer qual é o significado da rocha nessa parábola? Uma vez que Jesus também é comparado com a pedra angular (Marcos 12:10), muitos costumam interpretar a parábola dizendo que a rocha é Cristo, mas infelizmente não é isso que Jesus está nos ensinando aqui.
Observe que a casa construída sobre a rocha representa aquele que ouve as palavras de Jesus e as põe em prática. Sendo assim, torna-se algo superficial dizer que Jesus é a rocha, uma vez que isso pode levar alguém que acredita nele e se tornou um ouvinte dele possa imaginar que já tem sua casa edificada sobre a rocha.
Jesus está ensinando nessa parábola que muitos têm ouvido os seus ensinamentos, pensam que já estão firmes, mas estão iludidos. Para ter a sua casa construída sobre a rocha é necessário ouvir as palavras de Jesus e também praticá-las.
Novamente, Jesus disse: “minhas palavras”, ou seja, ele não estava se referindo a alguma palavra pregada ou a qualquer palavra da bíblia, mas sim às suas palavras, mais especificamente do contexto do evangelho de Mateus, nos capítulos 5, 6 e 7.
Uma vez que Jesus disse que um discípulo de verdade é aquele que permanece em sua palavra, e também que a casa firmada na rocha representa aquele que ouve e pratica as suas palavras, então a casa na rocha pode ser entendida como sendo um verdadeiro discípulo de Jesus, ou ainda, como um grupo de verdadeiros discípulos de Jesus.
Ao olharmos para uma casa, as partes visíveis são as paredes e o telhado. Quando alguém fica encantado com a cobertura de uma casa, corre o risco de deixar de reconhecer seus alicerces, aquilo que é invisível, mas essencial para que permaneça firme diante das enchentes. Por isso que, nesta parábola, a cobertura de uma casa representa a enganosa sensação de segurança espiritual.
Enquanto muitos religiosos têm se ocupado em engomar seus ternos (Mateus 23:5), erguendo reinos para que não sejam espalhados (Gênesis 11:4-9, Apocalipse 18:1-8) e chamando uns aos outros a entrarem em suas belas e poderosas coberturas espirituais, Jesus chama suas ovelhas para fora dos apriscos que eles estabeleceram (João 10:1-3, 10:16) e forma a sua igreja, que vem do grego ekklesia, palavra que traz o significado de chamados para fora.
“Alguns fariseus perguntaram a Jesus quando viria o Reino de Deus. Ele respondeu: O Reino de Deus não vem com aparência visível. Nem dirão: Está aqui! Ou: Está ali! pois o Reino de Deus está dentro de vocês [ou entre vocês]”. Lucas 17:20-21
Depois de desligar-se do vínculo com os sistemas visíveis, tão valorizados e ostentados pelos homens, mas abomináveis aos olhos de Deus (Lucas 16:15, Mateus 6:24), rompem-se os espinhos babilônicos que tornam a igreja infrutífera (Mateus 13:22). Ela então pode encontrar pastagem, tendo liberdade para ouvir e corresponder a Jesus, adquirindo aquilo que tem valor invisível, mas eterno na construção de uma casa, os alicerces firmados na rocha. Isso significa alcançar a liberdade do pecado, sendo um discípulo de Cristo pronto a ouvir e praticar as suas palavras.
Se decidimos ser verdadeiramente discípulos de Cristo, não basta que ele se torne só a nossa maior referência na palavra, também devemos agir como ele agiu, sendo assim, amemos uns aos outros, assim como ele nos amou.
“[Jesus disse:] Eu lhes dou um novo mandamento: que amem uns aos outros. Assim como eu amei vocês, que também vocês amem uns aos outros. Nisto todos saberão que são meus discípulos, se vocês amarem uns aos outros.” João 13:34-35
Discipulem – Capítulo 2
Jesus Ordenou: Discipulem
Abaixo estão relatadas as últimas palavras de Jesus que foram dirigidas aos discípulos no evangelho de Mateus. Depois de sua morte e ressurreição, Jesus diz aos discípulos que, diante de toda autoridade nos céus e na terra que ele recebeu do Pai, eles deveriam cumprir com a ordem de discipular as nações.
“Então, Jesus aproximou-se deles e disse: Foi dada a mim toda autoridade nos céus e na terra. Indo, portanto, discipulem todos os povos, batizando-os no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que ordenei a vocês, e eu estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos.” Mateus 28:18-20
A maior parte das traduções bíblicas induz que os leitores pensem que a ordem de Jesus é o ide, mas essa vaga ideia não está de acordo com o texto grego do novo testamento. O único verbo que se encontra no modo imperativo neste texto acima é discipulem, que também pode significar façam discípulos. Ao invés de ide, esse verbo deveria ser interpretado como indo.
A ordem discipulem abrange três ações que expressam continuidade: indo, batizando e ensinando. Vamos analisar por partes cada uma dessas três ações.
Primeiramente, Jesus espera que as nações sejam discipuladas pela iniciativa dos seus discípulos, e isso está implícito no verbo indo. Não devemos criar a expectativa de que os povos venham até as nossas reuniões para serem batizados e ensinados. Na verdade, somos nós quem temos a responsabilidade de ir. Jesus teve a oportunidade de estabelecer grandes sinagogas para congregar as multidões que ele evangelizou, mas deu prioridade para ir a outras cidades para pregar (Marcos 1:37-38).
Em segundo lugar, o discipulado envolve a ação: batizando as nações em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Isso significa que batizar (imergir) as nações é uma das três partes que constituem a totalidade da ordem discipulem.
Quando fazemos qualquer ação em nome de alguém, isso quer dizer que temos um envio para executar essa ação, ou, no mínimo, recebemos autoridade para escolher quando executar essa ação. Por exemplo, se eu envio meu filho para entregar um livro em meu nome para o vizinho, ele deve entregar o livro a ele dizendo algo assim: estou entregando este livro em nome de meu pai. Isso quer dizer que batizar alguém em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo não pode ser tratado como um ritual em que apresentamos esses três nomes como se tratassem de uma senha mágica, algo que erroneamente costuma ser feito em muitas orações e declarações de fé. Realizamos os batismos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo porque temos a convicção de que essa ação está de acordo com a vontade do Pai, de Jesus Cristo e do Espírito Santo. Se temos essa certeza, o batismo não deve vincular aquele que foi batizado a uma denominação ou a quem o batizou, mas sim ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
Em terceiro lugar, para finalizar, a ordem para discipular envolve a ação: ensinando as nações a guardar tudo aquilo que Jesus ordenou. Discípulos de Jesus são feitos na medida com que ouvem e permanecem nas palavras dele, por isso que o verdadeiro discipulado está relacionado a ensinar tudo aquilo que Jesus ordenou. Tenhamos a clareza de que o nosso dever é formar discípulos de Cristo exclusivamente (João 8:31, Mateus 23:8), não discípulos de nós mesmos.
Algumas pessoas dizem que a ordem para discipular não vale para nós nos dias de hoje, pois foi dada somente aos onze discípulos que estavam com Jesus. De fato, somente os onze estavam presentes naquele envio (Mateus 28:16), mas como Jesus disse que eles deveriam ensinar às nações tudo aquilo que ele ordenou, esse envio também deveria ser repassado por eles aos novos discípulos. Em resumo, todos discípulos de Jesus recebem a missão de fazer outros discípulos de Jesus.
Outra questão importante é que Jesus está nos orientando a ensinar tudo aquilo que ele ordenou, independentemente se tivermos ou não uma vocação para sermos professores. Além disso, não devemos nos limitar a ensinar somente aquilo que é mais interessante para nós ou mais agradável para os ouvintes (2Timóteo 4:3-4).
Não pense, por isso, que essa tarefa de ensino é um fardo muito pesado que Jesus coloca sobre nós (Mateus 11:30), afinal, sobre quais coisas um discípulo de Jesus deveria falar? Se um discípulo é disciplinado a ouvir e obedecer tudo aquilo que seu mestre diz, então é sobre isso que ele vai valorizar e conversar uns com os outros, afinal, a boca fala daquilo que está cheio o coração.
Se estou cheio de Jesus em mim, vou falar dele e incentivar os outros a se tornarem discípulos dele. Se alguém estiver cheio de si mesmo, vai falar de si mesmo e incentivar outros a se tornarem discípulos de si mesmo. Entenda que aqueles que atraem discípulos para si mesmos não são as ovelhas de Cristo, são na verdade os lobos que estão infiltrados causando dano ao rebanho de Cristo (Atos 20:29-30). Reconheça os lobos pelas suas doutrinas, assim como a árvore é reconhecida pelos seus frutos. Jesus disse que os frutos bons e maus podem ser diferenciados pelas palavras que saem de dentro do coração das pessoas (Lucas 6:43-45).
“[Jesus disse:] Os escribas e fariseus se assentam na cadeira de Moisés. Portanto, façam e guardem tudo o que eles lhes disserem, mas não imitem as obras, pois não praticam o que dizem. Atam fardos pesados e difíceis de carregar e os colocam sobre os ombros dos homens; mas eles mesmos nem com o dedo querem movê-los. Praticam todas as suas obras para serem vistos pelos homens, alargam seus filactérios e aumentam as franjas de seus mantos; gostam do primeiro lugar nos banquetes e dos primeiros assentos nas sinagogas, de serem cumprimentados nas praças e chamados de mestre pelos homens. Vocês, porém, não queiram ser chamados de mestre; porque um só é o mestre de vocês, e todos vocês são irmãos. E a ninguém na terra chamem pai de vocês; porque um só é o Pai de vocês, aquele que está no céu. Nem queiram ser chamados guias; porque um só é o Guia de vocês, que é o Cristo. Mas o maior dentre vocês deverá ser o servo de vocês.” Mateus 23:2-11
Jesus disse que os escribas e fariseus eram hipócritas, pois não praticavam aquilo que pregavam. Eles queriam que as pessoas tomassem para si fardos que eles mesmos não estavam dispostos a carregar, por exemplo, exigindo que todos estivessem debaixo de suas autoridades, sendo que eles mesmos não se submetiam a ninguém, nem a Deus.
Vamos fazer uma analogia com os dias de hoje. Podemos representar esses escribas e fariseus como aqueles teólogos, padres e pastores que estão apegados aos seus títulos e ocupam os melhores lugares nas sinagogas, estas que são chamadas erroneamente de igrejas ou templos. A palavra igreja também pode ser traduzida por assembleia, ou seja, trata-se de um conjunto de pessoas. Por isso, a igreja deveria ser compreendida como algo que tem vida, não um lugar (Efésios 1:22-23). No novo testamento, o templo é interpretado como sendo nosso próprio corpo (1Coríntios 3:16), ou ainda, como o Corpo de Cristo, uma edificação espiritual constituída de pedras vivas (1Pedro 2:4-5). A igreja é um organismo vivo, não uma sinagoga ou um templo. Jesus disse que faria morada naqueles que obedecessem à sua palavra (João 14:23), não em templos construídos por mãos humanas (Marcos 14:58, João 2:21, Atos 7:48).
Os escribas e fariseus dos dias de hoje podem ser facilmente reconhecidos, pois não são servos uns dos outros, estão mais apegados às suas posições de hierarquia e ainda exigem serem chamados pelos seus títulos religiosos. Enquanto Jesus estava se referindo à vaidade dos títulos de mestres, pais e guias, as sinagogas da atualidade insistem em levantar suas hierarquias, intitulando seus apóstolos, padres e pastores.
Uma vez que Jesus disse claramente que não deveríamos querer ser chamados de mestres e guias porque somente a ele deveria ser dado esse atributo, é fácil perceber que esses líderes religiosos estão mais preocupados em promover a si mesmos para tomar o lugar que pertence a Cristo, ao invés de fazer discípulos dele (João 5:43).
Nesses versículos acima, Jesus está nos orientando a chamarmos uns aos outros de irmãos, pois não devemos querer intitular ou querer ser intitulados pelas pessoas. Já o termo cristão (Atos 11:26) significa literalmente cristinho ou ungidinho. Um cristão nada mais é que um imitador de Cristo, ou ainda, um discípulo dele.
“[Jesus disse:] Ai de vocês, escribas e fariseus, hipócritas! Porque percorrem o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terem feito, vocês o tornam duas vezes mais filho do inferno [geenna] do que vocês.” Mateus 23:15
A visão dos escribas e fariseus não era fazer discípulos de Cristo, na verdade, era algo bem parecido com esta ordem: ide e façam prosélitos do nosso partido. Nos dias de hoje, as lideranças supostamente cristãs herdaram essa mesma visão religiosa, pois ensinam regras de comportamento que dão identidade para suas denominações. Quando surge uma pessoa que não respeita essas tradições, ela é questionada, podendo até ser convidada a sair porque está agindo fora da visão (Mateus 15:1-3).
Quando as tradições religiosas da visão tomam o lugar das palavras de Jesus, formam-se prosélitos, que são aqueles que foram convertidos aos homens e às placas denominacionais. É por isso que Jesus considera que esse falso evangelismo traz o resultado de conduzir as pessoas a serem duplamente mais merecedoras da punição, ao invés da salvação eterna.
O evangelho, ou seja, a boa notícia que Jesus pregou é do Reino de Deus (Mateus 4:17, 4:23, 9:35), não da instituição religiosa ou dos líderes religiosos. Jesus nos convida para o Reino de Deus, não para um lugar com visível aparência onde é possível congregar regularmente (Lucas 17:20-21). Não confunda evangelismo com proselitismo.
O evangelismo de Jesus promove o Reino de Deus, um lugar que não é deste mundo (João 18:36), pois é espiritual, celestial, onde as pessoas herdarão a vida eterna, sabendo que para chegar até lá não podem abrir mão de um processo de arrependimento, ou seja, de uma mudança de mentalidade. Já o proselitismo vai além das palavras e ações do Mestre, pois a motivação está em cumprir com o alvo de encher salões por meio de facilidades, que são utilizadas para atrair e converter as pessoas, no sentido de congregar novos membros, que estarão sob o controle e domínio de uma determinada visão de homens (1Pedro 5:3). Você tem consumido o seu tempo, esforço e saliva fazendo evangelismo ou proselitismo? Onde estiver o seu tesouro, aí estará também o seu coração (Lucas 12:34).
Podemos comparar os proselitistas com os nicolaítas (Apocalipse 2:6 e 2:15), ou seja, com os seguidores de nicolau. Como nicolau significa vencedor, podemos dizer que os nicolaítas são os discípulos de homens vencedores entre o povo, por isso disseminam a visão dos homens. Os nicolaítas permitiram-se ser encantados por algum homem poderoso, por isso escolheram dar mais valor às coisas terrenas que atraem a glória dos homens do que para a realidade espiritual do céu e de Jesus como suficiente pastor e guia das ovelhas (João 5:44, 10:11).
Há quem diga que um cristianismo simples, sem pastores intitulados, hierarquias, locais e horários de reuniões bem definidos, trata-se somente de uma maneira rebelde de servir a Deus. Felizmente, Jesus deixa bem claro a nós que, na verdade, os rebeldes são aqueles que abandonaram aquilo que Deus mandou fazer e deram preferência para seguir às tradições dos sistemas impostos pelos homens.
“[Jesus disse:] Hipócritas. […] Este povo honra-me com os lábios; mas seu coração está longe de mim; em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. […] Vocês abandonam o mandamento de Deus e se apegam à tradição dos homens.” Marcos 7:6-8
Nos dias de hoje, há muitos que se sentiriam elogiados se recebessem de Jesus o adjetivo de atores. Uma vez que a palavra hipócrita traz literalmente o significado de ator pelo texto grego do novo testamento, isso mostra que Jesus não estava insultando os fariseus e escribas quando chamou-os de hipócritas, mas sim revelando a natureza deles quanto ao fingimento bem elaborado. Esses religiosos honravam a Deus com suas bocas, liturgias e tradições humanas. Praticando suas obras diante do povo, eles conquistam aplausos para si mesmos, conseguem enganar a muitos e até a si mesmos, mas não a Jesus. Curiosamente, no latim, a palavra púlpito significa palco. Sendo assim, cuidado, pois o palco é o destino dos atores (Lucas 12:1).
Respostas das ovelhas no interrogatório dos nicolaítas: Quem é o pastor de vocês? Jesus Cristo (João 10:11, Mateus 23:10, Atos 4:19). Quem foi ungido dentre vocês? Jesus é o Ungido de Deus (Lucas 4:18, Mateus 24:5). A quem vocês submetem? Uns aos outros no temor de Cristo (João 19:11, Mateus 23:1-3, Efésios 5:21). Por que vocês saíram da igreja? Nós somos a igreja, o Corpo de Cristo (João 3:21, Efésios 1:22-23). Para onde vocês querem levar as pessoas? Ao Reino de Deus (Mateus 6:33, 7:21, Lucas 17:20-21). Como vocês ajudam as pessoas a encontrar a salvação? Ensinando tudo aquilo que Jesus ordenou (Mateus 28:19-20; João 5:24, 8:31-34).
“[Jesus disse:] Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo; pois não vim para julgar o mundo, mas para salvá-lo. Quem rejeita a mim, e não aceita as minhas palavras já tem quem o julgue. A palavra que tenho dito o julgará no último dia.” João 12:47-48
Discipulem – Capítulo 3
Igrejas Nas Casas
“Alguns dias depois, Jesus entrou outra vez em Cafarnaum; e souberam que ele estava em casa. Muitas pessoas reuniram-se ali, a ponto de não haver lugar nem mesmo diante da porta; e ele lhes anunciava a palavra.” Marcos 2:1-2
Jesus deu a nós o exemplo de como reunir-se de casa em casa. As pessoas vinham para ouvir a sua palavra e ele não se apegou a fazer reuniões sempre na mesma casa. A essência das reuniões nas casas está em ouvir a palavra de Cristo. No entanto, também vemos Jesus reunir-se de casa em casa para: curar e perdoar pecados (Mateus 9:28, Marcos 2:1-5), tirar as dúvidas dos discípulos (Mateus 13:36; Marcos 7:17, 9:28, 10:10) e corrigir os discípulos (Marcos 9:35).
Há diversas ocasiões em que vemos Jesus ministrando a palavra ou tendo comunhão: na casa de Mateus (Mateus 9:10), na casa do leproso Simão (Mateus 26:6-7), na casa de Pedro e André (Marcos 1:29-30), na casa em que ele foi procurado pelos seus parentes (Marcos 3:20-21, 31), na casa da menina que ressuscitou (Lucas 8:51-52), na casa de Marta e Maria (Lucas 10:38-39), na casa de um dos chefes dos fariseus (Lucas 14:1), na casa de Zaqueu (Lucas 19:5 e 9) e na casa que Jesus celebrou a Páscoa com os seus discípulos (Lucas 22:11-12).
Os discípulos de Jesus no primeiro século mantiveram-se seguindo o exemplo dele reunindo-se: em casa para orar (Atos 1:13-14), em uma casa durante a festa de Pentecostes (Atos 2:1-2), na casa de Cornélio para compartilhar a palavra (Atos 10:22), como igreja nas casas onde eram perseguidos (Atos 8:3), na casa da mãe de João Marcos para orar (Atos 12:12), na casa de Lídia para encorajar uns aos outros (Atos 16:40), na casa do carcereiro para a pregação da palavra (Atos 16:31-34), na casa de Jasom para hospedagem (Atos 17:5), na casa de Tício para pregação da palavra (Atos 18:7-8), na casa de Filipe para hospedagem (Atos 21:8), na casa de Paulo para compartilhar a palavra (Atos 28:23, 30-31), como igreja na casa de Priscila e Áquila (Romanos 16:3-5, 1Coríntios 16:19), como igreja na casa de César (Filipenses 4:22), como igreja na casa de Ninfa (Colossenses 4:15) e como igreja na casa de Filemon (Filemon 1:1-2).
Jesus enviou os doze discípulos para permanecerem nas casas para dali pregar o Reino de Deus e realizar curas (Lucas 9:1-4), depois enviou os setenta e dois discípulos para fazer o mesmo (Lucas 10:1-9), orientando também os novos convertidos a anunciar em suas próprias casas as obras que ele fez (Marcos 5:19). A igreja do primeiro século permaneceu compartilhando a palavra e convivendo da mesma maneira como fez Jesus, pregando a palavra publicamente e de casa em casa.
“E, perseverando de comum acordo todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e simplicidade de coração.” Atos 2:46
“E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar e de anunciar Jesus, o Cristo.” Atos 5:42
“Não me esquivei de anunciar a vocês nada do que fosse benéfico, ensinando a vocês publicamente e de casa em casa.” Atos 20:20
Jesus e a igreja do primeiro século tinham as casas uns dos outros como as bases para a pregação da palavra e comunhão. Mas isso não significa que os discípulos de Jesus isolavam-se, no sentido de restringir a palavra de ser multiplicada (Atos 6:7, 12:24, 19:20). Jesus não se limitou a essa simplicidade nas casas, compartilhando a palavra também nas sinagogas (Mateus 4:23, 9:35; Marcos 1:21; Lucas 4:16, 4:44; João 6:59). Como Jesus disse que ele é a luz do mundo (João 8:12, 9:5) e que nós somos a luz do mundo (Mateus 5:14-16), a sua palavra não deve ficar ocultada em nós.
“Jesus lhe respondeu: Eu falei abertamente ao mundo; sempre ensinei nas sinagogas e no templo, onde todos os judeus se congregam. Nada falei em oculto.” João 18:20
Os pátios e salões representavam os locais de passagem por onde Jesus conseguia ter multidões aglomeradas para que a sua palavra fosse compartilhada. É interessante notar a seriedade que Jesus demonstrou no templo e nas sinagogas tão valorizadas pelos homens (João 2:13-21). No entanto, não encontramos relatos de Jesus congregando como membro de uma sinagoga particular, ou ainda, recomendando os seus discípulos a congregar em alguma delas.
As sinagogas eram como escolas onde os judeus se encontravam, oravam e liam as escrituras. Como não encontramos alguma recomendação de Deus para que sejam implantadas sinagogas ou denominações, nem pela Lei de Moisés, nem nos ensinamentos de Jesus e dos apóstolos, elas podem ser interpretadas como sendo obras mortas de mãos humanas, como apriscos onde Jesus entra pela porta para chamar as suas ovelhas e conduzi-las para fora.
“[Jesus disse:] Em verdade, em verdade digo a vocês: Quem não entra no aprisco das ovelhas pela porta, mas sobe por outra parte, este é ladrão e assaltante. Mas o que entra pela porta é o pastor das ovelhas. O porteiro abre-lhe a porta. As ovelhas ouvem a sua voz, ele as chama pelo nome e as conduz para fora.” João 10:1-3
As primeiras sinagogas foram criadas após o exílio na Babilônia devido à inexistência de um templo. Elas se popularizaram por intermédio dos fariseus e hoje continuam sendo tomadas como modelo para diversos partidos cristãos denominacionais (1Coríntios 1:12-13).
Jesus e os discípulos permaneciam ensinando nas sinagogas e no pátio do templo até o momento em que os líderes e membros locais se incomodavam de tal maneira que os expulsavam e os ameaçavam de morte (Lucas 4:28-29; Atos 5:21, 26:21). Jesus não nos forneceu estratégias para evitar essas ameaças. Pelo contrário, Jesus nos ensinou que se ele foi perseguido, é inevitável que aqueles que andam com ele também fossem perseguidos (João 15:20, 2Timóteo 3:12).
“[Jesus disse:] Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos; portanto, sejam astutos como as serpentes e simples como as pombas. Cuidado com os homens, pois eles lhes entregarão aos tribunais e açoitarão vocês nas suas sinagogas; e por minha causa serão levados à presença de governadores e reis, para que deem testemunho, a eles e aos gentios.” Mateus 10:16-18
Jesus e os discípulos não abriam mão de pregar nos lugares públicos (Atos 13:4-5, 14:1, 17:17, 18:28, 19:8), pois assim cumpriam-se as profecias de perseguição, mas, definitivamente, esses não eram os lugares onde conseguiam se relacionar como família, renovando o corpo, a alma e o espírito. Jesus reunia-se com essa intimidade, como uma família espiritual, nas casas.
“Então a mãe e os irmãos de Jesus chegaram e ficaram do lado de fora da casa; e mandaram chamá-lo. Havia muita gente sentada ao redor dele, e disseram-lhe: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e te procuram. Jesus lhes respondeu: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E olhando em redor para os que estavam sentados à sua volta, disse: Aqui estão minha mãe e meus irmãos! Aquele, pois, que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe.” Marcos 3:31-35
Os discípulos reuniam-se como família de casa em casa, pois este era o local mais reservado para orarem juntos, receberem ajuda uns dos outros, serem corrigidos e encorajados a permanecerem no ensino de Cristo. Uma vez que reuniam-se como família de Deus, não eram convidados a entrar aqueles que não tinham interesse em fazer a vontade de Pai e permanecer nos ensinamentos de Jesus.
“Todo que vai além do ensino de Cristo e não permanece nele, não tem Deus. Quem permanece no ensino, esse tem tanto o Pai como o Filho. Se alguém vem visitar vocês e não traz esse ensino, não o recebam em casa, nem o cumprimentem. Pois quem o cumprimenta participa de suas obras más.” 2João 1:9-11
Diante da postura de Jesus e dos seus discípulos nas casas, concluímos que o propósito principal das reuniões caseiras do primeiro século era o ensino de Cristo. No entanto, em Jesus também encontramos um contraponto para não tropeçar em um fundamentalismo religioso nas casas, pois algumas pessoas que ainda não foram curadas das feridas da opressão dos sistemas religiosos reagem dizendo que o único e verdadeiro local onde Jesus está presente seria uma reunião caseira (Mateus 24:26).
A mulher samaritana também expressou uma dúvida a Jesus, perguntando a ele qual seria o local mais correto para adorar a Deus, pois uns diziam que era no monte em Samaria e outros estavam dizendo que era em Jerusalém. Hoje em dia, as pessoas continuam fazendo perguntas semelhantes, se o local certo para fazer o culto seria: em uma visão conservadora ou protestante, em uma denominação tradicional ou renovada, onde sinto-me mais confortável ou em uma instituição com foco missionário, onde são realizados grandes eventos ou numa comunidade mais simples, publicamente ou de casa em casa.
“Então Jesus lhe disse: Mulher, crê em mim, a hora vem em que nem nesse monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. […] Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em Espírito e em verdade; porque são esses que o Pai procura para seus adoradores. Deus é Espírito, e importa que os seus adoradores o adorem em Espírito e em verdade.” João 4:21, 23-24
Jesus respondeu à mulher samaritana dizendo que o que Deus está procurando é mais importante do que aquilo que nós estamos procurando. Deus também está à procura de um lugar de adoração. Ele procura habitar em alguém que seja um adorador que o adore em Espírito e em verdade (João 14:23). A resposta para onde devemos ir não está muito longe, está em nós (Lucas 17:21). O verdadeiro culto ou adoração a Deus deve ser realizado por nós em nós, independente de onde estivermos, seja numa sinagoga ou na casa dos irmãos, sendo perseguidos publicamente ou numa simples comunhão com a nossa família espiritual. Podemos corresponder com o desejo do Pai sendo os adoradores que Ele procura, em qualquer lugar ou ocasião. Mas que essa adoração seja em Espírito, não na carne, e que seja também em verdade, pois a sua palavra é a verdade (João 17:17).
Discipulem – Capítulo 4
Organização de uma Reunião em Casa
“Então Jesus chamou-os para junto de si e lhes disse: Sabem que os governantes dos pagãos os dominam, e as pessoas importantes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser se tornar grande entre vocês, seja esse o que serve vocês, e quem quiser ser o primeiro entre vocês, será o servo de vocês, a exemplo do Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e para dar a vida em resgate de muitos.” Mateus 20:25-28
Jesus está nos dizendo que a hierarquia entre os homens é um costume pagão. A vaidade estará onde uns estiverem querendo exercer autoridade sobre os outros (Mateus 23:1-12). Já entre os discípulos de Jesus estão aqueles que são capazes de ouvir a voz do bom Pastor, por isso se contentam sendo somente servos uns dos outros. Não existe divisão entre clero e leigo onde todos são sacerdotes (1Pedro 2:9).
Mesmo diante das sãs palavras de Jesus, alguns ainda temem que haja desordem na reunião se não houver alguém que possa ditar as ordens. Observe abaixo a maneira como Paulo aconselha a igreja em Corinto com relação à desordem na reunião.
“Irmãos, que fazer, então? Quando vocês se reúnem, cada um de vocês tem um hino, tem uma palavra de instrução, tem uma revelação, tem uma palavra em língua, tem interpretação. Tudo deve ser feito visando a edificação. […] Porque todos podem profetizar, um de cada vez, para que todos aprendam e sejam encorajados. […] Portanto, irmãos, desejem intensamente o dom de profetizar, e não proíbam o falar em línguas. Mas tudo deve ser feito com decência e ordem.” 1Coríntios 14:26, 31, 39-40
As pessoas do mundo costumam adotar um modelo de liderança para se organizarem, mas Jesus disse que entre nós não deve haver aqueles que exercem domínio e autoridade uns sobre os outros. Paulo poderia ter orientado que fosse levantado um irmão com perfil de liderança que tivesse pulso firme para botar a reunião em ordem, colocando os outros sentados em bancos enfileirados de frente para um púlpito. Mas sendo um discípulo de Cristo, sugeriu a eles, basicamente, estes princípios: todos podem participar trazendo algo que possa edificar uns aos outros, um de cada vez e não proíbam, mas que tudo seja feito com decência e ordem.
Isso significa que a verdadeira ordem está relacionada com a liberdade para todos participarem, um de cada vez, até mesmo as crianças (Mateus 19:14). Não existe alguma necessidade de ordenar irmãos com títulos de autoridade uns sobre os outros.
Diante disso, é necessário rever o significado que é dado aos presbíteros, bispos, diáconos e mestres (Atos 15:6, 20:28; 1Timóteo 3:1-13, 5:17; Tito 1:5-9). Reinterpretemos o significado funcional deles, como anciãos, supervisores, servos e professores, e isso nos basta. Por exemplo, os anciãos são aqueles que servem de exemplo uns para os outros, não é dado a eles domínio sobre o rebanho de Cristo. Devemos compreender que, sob o fundamento dos ensinamentos de Jesus, esses nomes tratam-se de serviços, não de títulos ou cargos. Esses irmãos não se responsabilizam por exercer autoridade uns sobre os outros, simplesmente se responsabilizam pelos serviços.
Podemos dizer que os principais serviços de edificação do Corpo de Cristo para alcançarmos a plenitude de Cristo são: missionários (apóstolos), profetas, evangelistas, pastores e professores (Efésios 4:11-16). Estas são apenas funções, não há uma ordem de hierarquia entre elas. Aprendemos como servir em cada uma dessas funções olhando para Jesus, pois nele habita toda a plenitude.
Algumas vezes, mesmo nas reuniões nas casas, o Espírito Santo pode trazer uma orientação para organizarmos um serviço especificamente, de forma que a palavra continue sendo multiplicada (Atos 6:1-7). Isso pode estar relacionado com o ministério de ensino, encaminhamento de ofertas aos necessitados, louvor, crianças, jovens, viagens, etc. Toda estratégia ou metodologia que estiver de acordo com os ensinamentos de Jesus não precisa ser rejeitada, uma vez que o Espírito Santo pode autorizar ou trazer esse direcionamento. Temos liberdade para utilizar métodos sempre quando não estivermos apegados a eles, já que envelhecem e são provisórios.
“Então os discípulos de João [Batista] chegaram a ele [Jesus], perguntando: Por que nós e os fariseus jejuamos, mas os teus discípulos não jejuam? Jesus lhes respondeu: Por acaso os convidados para o casamento podem ficar tristes, enquanto o noivo está com eles? Mas chegarão os dias em que o noivo lhes será tirado, e então jejuarão. Ninguém põe remendo de pano novo em roupa velha, pois o remendo rasgará parte da roupa, e o rasgo ficará maior. Nem se põe vinho novo em recipiente de couro velho; do contrário se rompem, derrama-se o vinho, e os recipientes se perdem; mas põe-se vinho novo em recipiente de couro novo, e assim ambos se conservam.” Mateus 9:14-17
Jesus está dizendo que o nosso recipiente de couro deve ser renovado antes de receber o vinho novo, caso contrário, ambos se perderão. Jesus nos prepara para não ficarmos viciados nos costumes, métodos e rotinas. As pessoas a quem ministramos a palavra mudam, as condições para ministrar se renovam e nós mesmos estamos continuamente sendo transformados por Deus. Não necessariamente aquilo que Deus revelou que funcionará no futuro é algo que já poderia ser aplicado neste momento. Nem sempre uma coisa que funcionou antes, vai funcionar agora de novo. As velhas estratégias dos apriscos não funcionam bem do lado fora, na liberdade das pastagens. A maneira com que servirmos a Deus em uma fase de provisão é diferente da fase de provações. Há um tempo certo para cada coisa (Eclesiastes 3:1-8).
Jesus nos entregou o Espírito Santo para nos auxiliar a discernir todas as coisas, por exemplo, avisando sobre os tempos de perseguições que vamos sofrer (Atos 20:23) e separando alguns irmãos para um ministério (Atos 13:2). Uma das características principais do Espírito Santo é nos conduzir a Cristo, revelando os seus ensinamentos.
“[Jesus disse:] Mas o Consolador, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome, ele ensinará vocês todas as coisas e fará lembrar de tudo o que eu lhes tenho dito. […] Quando vier o Consolador, que eu lhes enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que procede do Pai, esse dará testemunho acerca de mim. […] Quando, porém, vier o Espírito da verdade, ele conduzirá vocês a toda verdade. E não falará de si mesmo, mas dirá o que tiver ouvido e lhes anunciará as coisas que hão de vir. Ele me glorificará, pois receberá do que é meu e o anunciará a vocês.” João 14:26, 15:26, 16:13-14
Se queremos que as nossas reuniões sejam conduzidas pelo Espírito Santo, então precisamos saber como discernir qual é o espírito que está nos orientando (1João 4:1-3). O Espírito Santo é aquele que vai fazer aquilo que Jesus disse que faria.
Primeiramente, Jesus está afirmando que o Espírito Santo ensinaria e faria lembrar de todas coisas que ele disse. Sendo assim, se algum espírito traz um ensinamento contrário aos ensinamentos de Jesus, então provavelmente esse não é o Espírito Santo. Se um espírito traz a atenção de todos mais para si mesmo que para Jesus, então provavelmente esse também não é o Espírito da verdade. Mas se ficarmos em dúvida, permaneçamos em temor, retendo aquilo que for bom, para não blasfemarmos contra o Espírito Santo (Marcos 3:29-30, 1Tessalonicenses 5:19-21).
Todas as pessoas podem ser usadas momentaneamente pelo Espírito de Deus, afinal, a profecia de Joel a respeito da promessa do derramamento do Espírito refere-se a toda carne (Atos 2:17). Isso significa que é melhor considerar tudo que está sendo dito por qualquer pessoa (João 7:24, Mateus 23:1-3). Deus usou até mesmo pessoas que tinham más intenções para profetizar: o rei Saul profetizou pelo Espírito de Deus (1Samuel 10:10, 16:14), o sumo sacerdote profetizou sobre Jesus (João 11:49-52) e até o falso profeta Balaão profetizou pelo Espírito de Deus (Números 24:1-9).
O dom de profetizar é apontado como o principal dos dons do Espírito Santo (1Coríntios 12:8-11) numa reunião, pois está relacionado com a edificação da igreja (1Coríntios 14:1-25). A profecia pode ser ministrada a partir de uma revelação, de uma palavra das escrituras ou ainda de um cântico. A Ceia do Senhor proclama a morte de Cristo e também profetiza sobre a sua vinda, e esta é uma das principais etapas da comunhão como igreja (1Coríntios 11:20-34).
“Tomando o pão e tendo dado graças, [Jesus] partiu-o e o entregou a eles, dizendo: Isto é o meu corpo dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim. Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança em meu sangue, derramado em favor de vocês.” Lucas 22:18-20
A realização da Ceia do Senhor em memória de Jesus é um mandamento que ele deu aos seus discípulos, não é algo opcional. É importante que a Ceia seja ministrada de maneira que todos sejam incentivados a discernir o Corpo e o Sangue de Jesus no pão e no vinho. Não importa o teor alcoólico da bebida de uva, quem vai servir, quem vai agradecer ou quantas vezes ao ano ela deve ser servida. Como sabe-se que Jesus partiu o pão numa Páscoa, celebrada no contexto da festa de Pães sem Fermento, sugere-se que seja mantido seus ingredientes básicos: farinha de trigo, azeite e sal (Levítico 2:11-13, Êxodo 29:2). Para que o pão fique mais fácil de ser partido, deixe-o o mais fino possível antes de assar. Para deixá-lo mais macio, adicione mais azeite.
Depois da Ceia do Senhor, Jesus cantou um hino com os seus discípulos (Mateus 26:30), então, também temos liberdade para: declarar salmos (cânticos que fazem uso de instrumentos musicais), cantar hinos (cânticos com vozes), declarar cânticos espirituais (mais espontâneos, gerados pelo Espírito em nós – 1Coríntios 14:15), louvando a Deus de coração (Colossenses 3:16-17, Efésios 5:18-21).
Sabendo-se que devemos esperar uns pelos outros para a Ceia do Senhor (1Coríntios 11:33), é interessante marcar um dia da semana e um horário definido para os irmãos se encontrarem (1Coríntios 16:2), mas isso não é algo obrigatório, afinal, no primeiro século, os discípulos tinham o costume de estarem juntos todos os dias para partirem o pão em suas casas (Atos 2:46, Hebreus 10:24-25).
A igreja do primeiro século é uma referência de como seria uma vida cristã saudável. Esses irmãos não só encontravam-se todos os dias como família, como repartiam tudo o que tinham não havendo necessitados entre eles (Atos 2:45, 4:32-35), eram hospitaleiros para abrirem suas casas (Lucas 10:5-8, Romanos 12:13, Hebreus 13:2), tinham unidade (João 17:21-23, Atos 4:32) e cresciam numericamente (Atos 2:47).
De uma maneira geral, essas características podem ser conquistadas com o nosso arrependimento, mas o acréscimo das pessoas pertence ao Senhor (Atos 2:47) e não deve se tornar um fardo para a igreja (Mateus 11:28-30). Jesus nos chama a ir até as nações, anunciando o evangelho do Reino de Deus (Marcos 16:15), não para convidar as nações para vir e se tornarem prosélitos (Mateus 23:15). Além disso, não vemos Jesus interessado que as multidões o acompanhassem (Mateus 7:13-14), basta que poucos discípulos dele estejam juntos em seu nome (Mateus 18:20, 28:19-20).
“Uma grande multidão acompanhava Jesus; e ele, voltando-se na direção dela disse: Se alguém vier a mim, e amar pai e mãe, mulher e filhos, irmãos e irmãs, e até a própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo. […] Assim, todo aquele que dentre vocês que não renuncia a tudo quanto possui não pode ser meu discípulo.” Lucas 14:25-26, 33
Quando a comunhão se torna a boa notícia em lugar do Reino, a reunião se torna um lugar de relacionamentos superficiais, como um clube, com integrantes encantados com a ideia de multiplicar membros, não de multiplicar frutos. Jesus ensina que os frutos estão relacionados com nossas palavras, ou seja, aquilo que sai de nossas bocas (Mateus 12:33-37; Atos 6:7, 19:20). Se os discípulos de Jesus buscarem ser ensinados em tudo aquilo que ele ordenou (Mateus 28:18-20), então são as palavras dele que irão ser multiplicadas em seus corações, como frutificação (Mateus 13:23).
“Escreve ao anjo da igreja em Filadélfia: Assim diz aquele que é santo, verdadeiro, o que tem a chave de Davi; o que abre e ninguém pode fechar, e o que fecha e ninguém pode abrir: Conheço tuas obras, tenho posto diante de ti uma porta aberta que ninguém pode fechar; tens pouca força [dúnamis], mas guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome. Farei aos da sinagoga de satanás, aos que se dizem judeus e não são, mas mentem, sim, farei que venham adorar prostrados aos teus pés e saibam que eu te amo.” Apocalipse 3:7-9
A igreja de Filadélfia, que significa amor fraternal, sugere uma superação para os problemas contidos na igreja anterior, de Sardes. A igreja de Sardes é caracterizada por um nome de que estava viva, mas estava morta (Apocalipse 3:1). Sendo assim, podemos considerá-la como a igreja denominacional, que sente a necessidade de se autoafirmar com uma placa ou logotipo, saudosismo daquela vida que já foi perdida. Em oposição, a igreja de Filadélfia contenta-se com o nome de Jesus e é reconhecida por guardar a sua palavra (João 14:21), mesmo tendo pouca força ou poder.
Isso não torna a igreja de Filadélfia superior às outras seis, pois Jesus reconhece todas as sete como suas igrejas (Apocalipse 1:20). Filadélfia também é exortada a conservar aquilo que tem para que receba a sua recompensa (Apocalipse 3:11).
Discipulem – Capítulo 5
Ensinando a Palavra de Cristo
A nova aliança que Deus fez com o seu povo se dá com Ele escrevendo as suas leis nas mentes e nos corações, de tal maneira que ninguém terá que ensinar o seu próximo (Hebreus 8:10-11). Uma vez que é o Espírito Santo quem nos ensina sobre todas as coisas (João 14:26), precisamos pedir ao Pai por essa Unção, para que assim sejamos ensinados (1João 2:27, João 6:45) e convencidos por Ele (João 16:8-11).
“[Jesus disse:] Se vocês, sendo maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo aos que o pedirem.” Lucas 11:13
Sendo que o Espírito Santo foi encarregado por Jesus para nos ensinar, não faz sentido que a ministração da palavra se torne uma tarefa teologicamente penosa para igreja. Na verdade, basta que deixemos de lado todo sistema humano que atrapalhe a maneira com que o Espírito Santo usará para nos ensinar sobre todas as coisas.
Uma vez que o Espírito Santo tem a responsabilidade pelo ensino, não devemos nos isentar dessa responsabilidade, afinal, Jesus também nos enviou para ensinar tudo aquilo que ele ordenou (Mateus 28:19-20). Mais do que entendermos que temos uma responsabilidade compartilhada com o Espírito Santo, devemos pedir pelo Espírito, de maneira que não nos tornemos autores do ensino-aprendizagem, mas sim instrumentos dele para ministrar as pessoas, de modo que assim elas sejam ensinadas por Deus. Quando fazemos uso da letra, sem revelação, isso nos deixa sujeitos a muitos enganos e sofismas (João 5:39; Mateus 4:5-7; 2Coríntios 3:6, 10:3-5).
Vamos olhar para aquele que foi ungido pelo Espírito (Lucas 4:18-19), aprendendo com ele como exercer esse ministério de discipulado. Jesus ensinou por intermédio de parábolas para falar a respeito do Reino de Deus (Mateus 13:1-53), dando uma maior importância para a parábola do semeador, pois ele sinalizou que esta seria a mais fundamental dentre todas as outras (Marcos 4:13).
“E [Jesus] falou-lhes muitas coisas por meio de parábolas, dizendo: O semeador saiu a semear. Enquanto semeava, uma parte das sementes caiu à beira do caminho, e as aves vieram e a comeram. Outra parte caiu em solo pedregoso, onde não havia muita terra; e logo brotou, pois a terra não era profunda. Mas saiu o sol e a queimou; e, como não tinha raiz, secou. Outra parte caiu entre espinhos, os quais a sufocaram quando cresceram. Mas outra parte caiu em terra boa e deu fruto; um grão produziu outros cem; outro sessenta; e outro, trinta. Quem tem ouvidos, ouça […] Compreendam, pois, a parábola do semeador. A todo o que ouve a palavra do Reino e não a entende, vem o Maligno e tira o que lhe foi semeado no coração; esse é o que foi semeado à beira do caminho. E o que foi semeado no solo pedregoso, esse é o que ouve a palavra e a recebe imediatamente com alegria; mas não tem raiz em si mesmo e dura pouco. Quando vem a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, logo tropeça. E o que foi semeado entre os espinhos, esse é o que ouve a palavra, mas as preocupações do mundo e a sedução da riqueza sufocam a palavra, e ela não produz fruto. Mas o que foi semeado em boa terra, esse é o que ouve a palavra e a entende; e dá fruto; e um produz cem; outro, sessenta; e outro, trinta.” Mateus 13:3-9, 18-23
Basicamente, o princípio do uso de parábolas está em permitir que vejam aqueles que tenham que ver, impedindo que vejam aqueles que não devem ver (Mateus 13:13-17). Jesus não é democrático na revelação da sua palavra. Ele disse que não deve ser dado aos cães aquilo que é santo, nem lançados aos porcos as nossas pérolas, pois fazendo isso traremos dano às pérolas e a nós mesmos (Mateus 7:6).
Na parábola do semeador, Jesus aponta três grandes problemas que impedem um coração de frutificar a palavra. São três os corações sem fertilidade: o solo à beira do caminho, o solo pedregoso e o solo entre espinhos.
O primeiro solo, em que as sementes caíram à beira do caminho, representam aqueles que não compreendem a palavra do Reino. Estes têm um coração endurecido pelo pecado e são atormentados ou até mesmo dominados pelos demônios, uma vez que não querem se arrepender das suas obras mortas e são infiéis a Deus.
O segundo solo, em que as sementes caíram em terra pedregosa, representam aqueles que permitiram que a palavra gerasse alguma vida, mas secaram rápido, pois não tinham raízes. As pedras são as tribulações e perseguições. O problema da seca pode ser superado com raízes mais profundas que alcançam as águas dos lençóis freáticos, representando os nascimentos da água e do Espírito (João 3:5-8, Atos 2:38-39).
O terceiro solo representa aqueles que conseguiram nascer e crescer, mas morreram sufocados entre os espinhos. Os espinhos representam o amor pelas coisas desse mundo. Jesus disse que não se pode servir a Deus e às riquezas, pois odiará a um e amará o outro (Mateus 6:24). Este solo é o coração preocupado ou seduzido com as riquezas, que ajunta tesouros na terra e não no céu (Mateus 6:19-21).
A interpretação da parábola sugere quais são os três assuntos fundamentais da palavra de Cristo a serem ministrados, de maneira que cada discípulo de Jesus venha adquirir o coração que Deus procura, o quarto solo, que frutifica para Ele em três dimensões diferentes: cem, sessenta ou trinta por um.
“Assim, deixando os aspectos elementares do ensino de Cristo, prossigamos para o aperfeiçoamento, não lançando de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas e da fé em Deus, o ensino sobre batismos, imposição de mãos, ressurreição dos mortos e juízo eterno.” Hebreus 6:1-2
Os aspectos mais básicos do ensino de Cristo podem ser divididos em três blocos temáticos: 1) arrependimento das obras mortas e fé em Deus, 2) ensino sobre batismos, imposição de mãos, 3) ressurreição dos mortos e juízo eterno. Esses três fundamentos da palavra de Cristo nos fornecem as bases para superarmos os problemas dos três solos infrutíferos.
A obra que Deus requer de nós é crer em Jesus (João 6:28-29, 5:24), que significa ser fiel a Jesus. Nos arrependemos das obras mortas (Mateus 6:24; Lucas 9:60, 10:38-42) quando buscamos o Reino do céu em primeiro lugar (Mateus 6:33). Assim, será superada toda a incredulidade ou infidelidade característica do primeiro solo. Se desejamos incentivar uns aos outros ao arrependimento e à fé, devemos levá-los a ouvir a palavra de Cristo (Mateus 28:19-20), pois esta é a origem da fé.
“Portanto, a fé vem pelo ouvir, e o ouvir, pela palavra de Cristo.” Romanos 10:17
Jesus também nos ensinou sobre batismos (Mateus 28:19; Marcos 16:16; João 3:5; Atos 1:5, 2:38-39) e imposição de mãos (Marcos 16:18, Lucas 24:50, Marcos 10:16). Permanecendo nessas práticas da palavra de Cristo, que promovem a misericórdia de Deus (Mateus 23:23, 6:14-15), ficaremos firmes diante das perseguições e tribulações (Atos 4:29-31), que são os problemas associados à seca do segundo solo.
“E [Jesus] disse-lhes: Indo por todo o mundo, preguem o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado.” Marcos 16:15-16
Mesmo tendo superado os problemas associados ao primeiro e segundo solo, estaremos sujeitos aos espinhos do terceiro solo se nos apegarmos à glória dos homens (João 12:43) e às coisas que têm muito valor aos olhos deles (Lucas 16:15). Há muitos que começam sua caminhada com Deus reconhecendo que Jesus é o Senhor e Salvador (Mateus 7:21), convertem-se de alguma maneira, mas se acomodam, ensinando outras doutrinas e discordando das sãs palavras de Cristo (João 8:37), esquecendo-se do dia da ressurreição dos mortos e do juízo eterno (João 5:24-29, Mateus 25:31-46, João 12:47-49). Para estes, a devoção a Deus tornou-se só mais uma oportunidade para que seus negócios sejam promovidos (Atos 8:18-23, 2Reis 5:20-27).
“Se alguém ensina alguma outra doutrina e discorda das sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e da doutrina que é de acordo com a piedade, é arrogante e não compreende nada, mas delira em questões e discórdias acerca de palavras; dessas coisas nascem invejas, brigas, calúnias, suspeitas maliciosas, disputas de homens de entendimento corrompido e privados da verdade, que imaginam que a piedade é fonte de lucro.” 1Timóteo 6:3-5
Muitas instituições cristãs têm se parecido mais com empresas, fazendo uso de hierarquias e outras estratégias pagãs para maximizarem seus lucros. Por outro lado, muitas reuniões cristãs em casas estão promovendo uma imagem de simplicidade, mas são panelas fechadas, em que seus integrantes demonstram mais interesse pela amizade dos irmãos que por Cristo, almejando receber ajuda para que sejam supridos nas suas questões profissionais, acadêmicas e afetivas (1Timóteo 5:13). Ambos os movimentos se igualam na discordância que expressam às palavras de Jesus, pois não abrem mão de manter suas relações babilônicas (João 10:11-14, Apocalipse 18:2-4), estas que estão em oposição à visão do Reino de Deus (Lucas 17:20-21, João 18:36, Mateus 6:19-21). Jesus disse: não façam negócios na casa de meu Pai (João 2:13-17).
Caso alguém tenha interesse por fazer estudos usando versículos que abrangem esses três temas fundamentais da palavra de Cristo, ou ainda outros além desses, abaixo está disponibilizada gratuitamente uma coletânea de ensinamentos de Jesus para serem estudados em pequenos grupos:
http://igrejanascasas.com/index.php/estudos-pdf/
As três etapas para frutificação do solo também podem ser exemplificadas pela maneira com que Jesus passou pelas três tentações no deserto: primeiro sendo provado na sua fidelidade a Deus (Mateus 4:1-4), depois sendo provado na profundidade de suas raízes espirituais (Mateus 4:5-7) e finalmente sendo tentado pelas riquezas desse mundo (Mateus 4:8-11).
A parábola do semeador também pode ser relacionada com as três festas bíblicas anuais: Páscoa/Pães sem Fermento, Pentecostes/Primícias e Cabanas/Tabernáculos (Êxodo 23:14-19, Deuteronômio 16, Levítico 23). Essas três festas também fazem uma alusão ao batismo na água, no Espírito e no fogo (Mateus 3:11, João 3:5, Atos 1:5, 1Coríntios 3:12-15, 1Pedro 4:12-13, Malaquias 3:2-3).
As três etapas para frutificação do solo também podem ser comparadas com a entrada nas três partes do templo: o Pátio, o Santo Lugar e o Santo dos Santos (Hebreus 9:1-5). Jesus se referiu ao templo de Deus como sendo o seu Corpo (João 2:21). Sobre o templo que foi construído por mãos humanas, ele disse que não ficaria pedra sobre pedra (Mateus 24:1-2). É necessário que aprendamos a discernir o Corpo de Cristo (1Coríntios 10:17, 11:28-32, 12:13). Se pretendemos entrar e permanecer na vida eterna, Jesus nos ensinou que a porta é estreita e o caminho é apertado.
“[Jesus disse:] Entrem pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e são muitos os que entram por ela; pois a porta é estreita, e o caminho que conduz à vida, apertado, e são poucos os que a encontram.” Mateus 7:13-14
Enquanto uns estão ocupados com tradições religiosas, há aqueles que estão encantados ou viciados com a sinergia dos grandes movimentos das massas, outros aguardam na expectativa de um grande avivamento. Enquanto isso, o nosso bom Pastor nos avisou que o amor de muitos esfriaria (João 10:14, Mateus 24:9-12).
Assim como Cristo é o Cabeça e nós somos o Corpo (Efésios 5:23, Colossenses 1:18), Cristo é a Videira e nós somos os ramos. Que as palavras dele permaneçam em nós para que ele encontre um solo bom, sendo glorificado pelos nossos frutos, por sua palavra multiplicada em nós (Mateus 28:19-20, Mateus 12:33-37). Somente assim seremos discípulos de Jesus (João 8:31-32).
“[Jesus disse:] Vocês já estão limpos pela palavra que lhes tenho falado. Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira; assim também vocês, se não permanecerem em mim. Eu sou a videira; vocês são os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podem fazer. Quem não permanece em mim é jogado fora e seca, à semelhança do ramo. Esses ramos são recolhidos, jogados no fogo e queimados. Se vocês permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, peçam o que quiserem, e lhes será concedido. Meu Pai é glorificado nisto: em que vocês deem muito fruto; e assim serão meus discípulos. Como o Pai me amou, assim também eu amei vocês; permaneçam no meu amor. Se vocês guardarem os meus mandamentos, permanecerão no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor.” João 15:3-10
Marcio Kobayashi
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